Aquecimento global: desafios e caminhos para a sustentabilidade em tempos de blockchain
O aquecimento global tem se intensificado nas últimas décadas, com os anos mais quentes sendo registrados de forma contínua. Em 2024, a temperatura média global atingiu um recorde de 1,55°C acima da média de 1850-1900. E superou o pico anterior de 2023, que havia registrado 1,45°C de aumento.
A última década (2011-2020) também foi a mais quente já observada. Este aumento gradual das temperaturas é um reflexo de um processo contínuo e acelerado, impulsionado por atividades humanas.
As causas do aquecimento global são bem conhecidas. As concentrações de gases de efeito estufa estão nos níveis mais altos dos últimos 2 milhões de anos. Os combustíveis fósseis são os maiores responsáveis por essas emissões. O transporte, com destaque para as emissões de dióxido de carbono, figura, por exemplo, entre os principais setores que contribuem para o agravamento do problema.
As consequências do aquecimento global já são evidentes e afetam diferentes regiões do planeta. Secas intensas, escassez de água e incêndios severos se tornaram comuns, enquanto o aumento do nível do mar provoca inundações em áreas costeiras. O derretimento do gelo polar acelera o aquecimento, e tempestades catastróficas têm se tornado mais frequentes e intensas. Além disso, a biodiversidade está em declínio, com muitas espécies ameaçadas de extinção.
Para reverter esse cenário, é essencial adotar ações eficazes, como a redução drástica das emissões de gases de efeito estufa e o aumento da adoção de energias renováveis. A eficiência energética também precisa ser ampliada para mitigar os impactos do aquecimento global e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.
Mercado de carbono, descarbonização e a indústria
E como a indústria financeira, pode, de fato, mitigar os impactos dos efeitos devastadores da tragédia climática que o mundo vive atualmente? O BeInCrypto conversou sobre o tema com Dayana Uhdre , fundadora da Allia e Doutora pela Universidade Católica de Lisboa, além de Procuradora do Estado do Paraná.
Uhdre atua e pesquisa com profundidade a interseção entre direito, tecnologia e novas regulações, especialmente nas áreas de tributação digital, blockchain, tokenização e ESG. Ela também falou com a reportagem sobre a jornada de descarbonização e o mercado de crédito de carbono e blockchain.
Como é o processo de descarbonização?
Dayana Uhdre:
A ONU vem nos alertando sobre as consequências devastadoras que o possível aquecimento da superfície da terra em 1,5º C nos próximos anos possam causar. Há estudos, inclusive, que já indicam termos ingressado nesses patamares de aquecimento globa l, limiares esses que eram os impostos pelo Acordo de Paris.
Ou seja, nesse ritmo, catástrofes climáticas extremas poderão ser mais corriqueiras do que outrora, trazendo inúmeros prejuízos sócio-econômicos. Daí porque a comunidade científica salienta ser urgente e inadiável diminuirmos a quantidade de emissões de gás de efeito estufa na atmosfera, principal causa do aquecimento.
E a descarbonização ou o processo de é justamente esse fluxo, essa jornada que visa diminuir e/ou mesmo neutralizar as emissões de gás de efeito estufa das mais diversas atividades.
Por onde começar?
Bom, não há como se fazer nada sem um diagnóstico de suas atividades, não é mesmo? Mas como diminuir se nem sei quanto emito e quanto isso representa em termos quantitativos?
Então o primeiro passo é medir quanto emito, é fazer o “inventário”, a contabilização das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), detalha a também Presidente da Comissão de Mercado Financeiro e Ativos Digitais do IBDRE (Instituto Brasileiro de Direito Regulatório).
O inventário de emissões é, portanto, o ponto de partida para qualquer estratégia de descarbonização. Ele mapeia as fontes de emissões diretas e indiretas (a que chamamos Escopos 1,2 e 3), tais como processos produtivos, consumo de energia, transporte e cadeia de suprimentos. Ele é a base para entender como e onde sua empresa está e para onde precisa ir.
Assim, uma vez que se mede a quantidade de emissões de GEE de uma empresa, é possível se pensar em cenários, metas de diminuição e/ou neutralização de emissões, melhores estratégias (sob a perspectiva custo x benefício) para se atingí-las (metas), etc.
Quais são as dificuldades dos processos?
Bom, fazer um inventário pode ser um processo complexo e demorado. Porque como qualquer contabilidade são necessários dados. É aqui também que a blockchain tem grande potencial para garantir a transparência e imutabildade necessárias para garantir um processo mais claro para todos os envolvidos
Então, uma vez feito o mapeamento das fontes de emissão de uma determinada organização, é preciso coletar dados relacionados a essas diversas fontes, dados esses que muitas vezes podem estar espalhados, sob o domínio de pessoas distintas.
Uhdre explica que ainda, é preciso aplicar metodologias como o GHG Protocol ou a ISO 14064, e garantir que as evidências e cálculos possam ser demonstrados.
Hoje, muitas vezes essa primeira etapa é feita em planilhas csv, abas, etc, o que dificulta essa tarefa de deixar os dados relacionados à emissão acessíveis, transparentes, e auditáveis.
E pior, em sendo um processo bastante manual e que ordinariamente é feito anualmente, não há como se monitorar de forma automatizada o eventual cumprimento de metas de descarbonização estabelecidas, mapeamento de oportunidades e riscos às mesmas, complementa.
Foi por isso, ao ver essa dor, que criamos a Allia. Nosso objetivo é ser tecnologia que auxilia empresas e consultorias nessa gestão das emissões de GEE, facilitando e acompanhando toda a jornada de descarbonização.
Como o mercado de crédito de carbono pode contribuir para mitigar a emergência climática?
Como já falamos, a emergência climática não é mais uma ameaça distante – ela já está impactando nossas vidas. Secas prolongadas, enchentes históricas e ondas de calor recordes são sintomas de um planeta em desequilíbrio. E pior, já se fala que estamos caminhando para um ponto de inflexão.
Logo, reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) não é uma opção, mas uma necessidade urgente. Nesse contexto, o mercado de crédito de carbono surge como uma ferramenta importante dentro da jornada de descarbonização.
Mas vale um alerta: ele não é uma solução mágica nem deve ser encarado como um “passe livre” para continuar poluindo. Seu papel é complementar, ajudando empresas e países a compensarem emissões que ainda não conseguem eliminar completamente.
Em síntese, Uhdre explica que o mercado de carbono funciona de duas formas:
1.Mercado regulado (ETS – Emission Trading System): Governos estabelecem limites de emissões para setores e empresas, e aquelas que poluem menos podem vender créditos para as que excedem seus limites. É um sistema já aplicado na União Europeia, China e outros países. O Brasil está caminhando para implementar seu próprio mercado regulado com a recente aprovação da Lei 15.042/2024.
2.Mercado voluntário: Empresas e indivíduos compram créditos de carbono de projetos que capturam ou evitam emissões, como reflorestamento ou energia renovável. Essa opção é usada por organizações que querem ir além das obrigações legais e demonstrar compromisso com a sustentabilidade.
Como mercado de carbono e contabilização das emissões estão conectadas?
Mercado de carbono é um mecanismo de fomento à transição, mas não substitui a necessidade de mudanças estruturais. O desafio real é redesenhar modelos de produção e consumo, impulsionar inovações tecnológicas e incentivar práticas regenerativas na agricultura e na indústria.
Mas, perceba que em todo esse contexto, ou melhor dizendo, justamente para que esse contexto funcione é necessário gerenciar as emissões, ter uma espécie de “painel de controle”, detalha.
Afinal, para que empresas e governos tomem decisões embasadas, é essencial calcular e reportar com precisão seus débitos (emissões de GEE) e créditos (ações de compensação, inclusive com créditos adquiridos, e remoção de carbono). Daí a importância de se fazer uso de ferramentas de gestão de emissões – como a que estamos desenvolvendo – que simplificam esse processo, garantindo transparência e credibilidade.
É um novo olhar, e um novo cenário que se inicia, principalmente com a recente aprovação da Lei que regerá no nosso Mercado de Carbono. Justamente por ser o início dessa tendência no Brasil, as oportunidades são imensas. Empresas que saírem na frente na gestão de emissões não apenas contribuirão para um futuro sustentável, mas também terão vantagens competitivas em um mercado cada vez mais exigente, finaliza Day Uhdre.
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