Criptomoedas colaboram para rombo na conta de capitais do Brasil
O saldo líquido de importações de criptomoedas no Brasil chegou a US$ 14 bilhões entre janeiro e outubro deste ano, segundo o Banco Central.
O saldo líquido de importações de criptoativos no Brasil alcançou US$ 14 bilhões entre os meses de janeiro e outubro deste ano, segundo dados do Banco Central (BC). Esse movimento contribuiu para a saída histórica de US$ 56,2 bilhões em capitais financeiros no período.
Esse é o maior volume de saída de dólares registrado desde o início do monitoramento dos dados pelo BC, em 1982. O fluxo financeiro considera operações de entrada e saída de capitais. Portanto, não cobre apenas investimentos em criptoativos. Também contempla ações estrangeiras, remessas de lucros e dividendos e investimentos diretos.
As importações de criptoativos totalizaram US$ 15 bilhões até outubro, uma alta de 57,9% frente aos US$ 9,5 bilhões do mesmo período de 2023. Por outro lado, as exportações somaram apenas US$ 949 milhões nesse mesmo recorte de tempo, contra US$ 463 milhões no ano anterior.
O impacto da mudança de metodologia
Os números da conta de capitais também refletem uma alteração na forma de contabilizar as movimentações por parte do BC. Afinal, em julho, a autarquia passou a seguir uma norma técnica do Fundo Monetário Internacional (FMI) que modifica a categoria dos criptoativos nas estatísticas do país.
Antes disso, criptos entravam como bens no balanço de pagamentos . Portanto, as importações (e exportações) de ativos virtuais ficavam registradas na balança comercial.
No entanto, agora, eles são considerados “ativos não financeiros não produzidos”. Por isso, tornaram-se parte da conta de capital — a qual reúne transações com ativos de diferentes tipos, além de transferências de capital entre o Brasil e outros países.
Por outro lado, os criptoativos não impactam diretamente as transações correntes, que registraram déficit de US$ 37,7 bilhões no mesmo período. O que a nova metodologia fez foi alterar significativamente os números do balanço de pagamentos em 2023 e 2024.
Os fatores por trás da saída de capitais
Segundo Fernando Rocha, responsável pelo departamento de estatísticas do BC, o resultado negativo da conta de capitais se deve principalmente a uma redução no ingresso de capitais estrangeiros.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Rocha declarou que:
“Neste ano, registramos um ingresso líquido menor de capital estrangeiro, que são aqueles fluxos de investimento direto, ações, renda fixa, empréstimos e outros. Eles somaram R$ 54,8 bilhões de janeiro e outubro do ano passado e agora foram R$ 31 bilhões.”
Além disso, Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, mencionou fatores estruturais para os números chegarem onde estão. Segundo ela, o aumento das remessas de lucros de empresas estrangeiras e os investimentos em criptomoedas contribuíram para o saldo negativo.
“A dinâmica de investimentos está favorecendo a saída de recursos do país neste ano (…) No momento, não vejo perspectiva de reversão desse comportamento.”
Perspectivas e recorde próximo
No momento, a tendência é de que se mantenha a tendência de aceleração da saída de capitais, especialmente durante o último trimestre deste ano.
O volume de retiradas do mercado brasileiro pode se tornar o maior da história do Brasil em um ano. Para efeito de comparação, o recorde atual é de 2019, quando US$ 65,8 bilhões deixaram o país.
Mesmo com o déficit recorde na conta financeira, o fluxo cambial segue positivo no acumulado de 2024. E isso se deve ao superávit expressivo da balança comercial. Por exemplo, em outubro, o superávit foi de US$ 3,4 bilhões, o que amenizou parcialmente o impacto das saídas da conta financeira do balanço de pagamentos.
EUA atraíram capital que estava no Brasil
Ao longo de 2024, o Brasil foi um dos países que sofreu com a política monetária dos Estados Unidos. Afinal, com uma taxa de juros elevada, o país norte-americano acabou atraindo uma grande parte do capital financeiro.
Isso ocorre porque a dívida norte-americana está entre as mais seguras do mundo. Além disso, está em dólar, que é uma moeda forte e estável. Para concorrer com os EUA, países como o Brasil devem oferecer taxas de juros vantajosas o suficiente.
No entanto, durante a maior parte do ano, o que houve no Brasil foi uma queda da Selic, a taxa de juros que serve como referência para a nossa economia. Com isso, muitos investidores preferiram ir atrás da segurança oferecida pelos papéis norte-americanos.
Um fenômeno semelhante vem ocorrendo com as criptomoedas. Afinal, elas passam por um momento de alta, fazendo com que muitos investidores comprem ativos dessa categoria. O movimento em direção a exchanges estrangeiras de criptos ajuda a explicar o rombo na conta de capitais brasileira.
Com os juros no Brasil voltando a subir pela primeira vez no atual governo Lula, há a possibilidade de o país se tornar mais atrativo para estrangeiros. No entanto, isso também dependerá de diversos outros fatores.
Por exemplo, a estabilidade da taxa de câmbio é uma questão sensível para os investidores estrangeiros. No entanto, atualmente, a relação entre o real e o dólar americano vem passando por alguma turbulência.
A elevação da nota de crédito do Brasil pela Moody’s , em outubro, poderia ser mais um fator positivo para atrair investidores de fora. Mas a questão fiscal e a alta da inflação no país também podem impedir que ocorra um fluxo maior de capital para o país — pelo menos neste momento.
Investidores locais optam pela precaução
Não são apenas os investidores estrangeiros que hesitam em levar capital para o Brasil. Boa parte dos investidores locais também mostra desconfiança em relação ao mercado local. E isso se deve a uma combinação entre o setor externo pouco favorável e a pressão fiscal sobre o governo federal.
Do ponto de vista do setor externo, a tendência de uma política fiscal expansiva por parte do futuro presidente dos EUA, Donald Trump, pode piorar o que já está ruim. Afinal, caso provoque uma nova elevação dos juros no país, o republicano pode fazer com que mais capital seja atraído — deixando o Brasil e outros mercados alternativos.
Já a questão fiscal local continua sendo uma fonte de preocupação. Atualmente, há a perspectiva nada boa de que a dívida pública do governo federal cresça ainda mais. Com isso, dificilmente o governo conseguiria cumprir as regras do novo arcabouço fiscal.
Além disso, a inflação está em alta, o que tende a puxar os juros para cima. Nem mesmo os números positivos relativos ao Produto Interno Bruto (PIB) e à taxa de desemprego despertam o ânimo do mercado.
Atualmente, o governo federal trabalha pelo anúncio de um pacote fiscal que gere uma redução significativa do orçamento dos dois próximos anos, 2025 e 2026. O objetivo é cortar cerca de US$ 70 bilhões em gastos e despesas.
Recentemente, circulou a informação de que o governo pode limitar novos aumentos do salário mínimo. Além disso, os militares estariam na mira do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que deseja cortar também alguns benefícios desse grupo.
Por fim, o governo deve enviar ao Congresso uma proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil. Essa perda de receita deve ser compensada pela cobrança de 15% sobre os rendimentos de quem ganha acima de R$ 50 mil por mês.
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