A stablecoin sUSD, moeda digital projetada para manter paridade estável com o dólar, vive seu pior momento desde 2020. Isso porque a criptomoeda supostamente estável caiu para US$ 0,70, revelando fissuras no modelo algorítmico da Synthetix. A desvalorização de 30% em semanas expõe os riscos das stablecoins não lastreadas em reservas tradicionais, abalando a confiança no ecossistema.
Diferentemente das conhecidas USDT e USDC – garantidas por dólares em bancos – a sUSD opera como ativo sintético lastreado em SNX, token nativo da Synthetix. Seu mecanismo original funcionava como um termostato automático: quando o valor caía abaixo de US$ 1, stakers eram incentivados a recomprar a moeda barata para reequilibrar o sistema, mantendo a paridade.

sUSD perde paridade no fim de março. Fonte: CoinGecko
Esse equilíbrio, contudo, estremeceu com a polêmica atualização SIP 420 , implementada em 5 de janeiro. A reforma transformou radicalmente a arquitetura do sistema. Em primeiro lugar, a atualização substituiu o modelo de stakers individuais por um pool coletivo. Além disso, reduziu a exigência de colateralização. A diminuição foi drástica, de US$ 7,50 para apenas US$ 2 em SNX por dólar emitido.
Enquanto prometia maior eficiência de capital, a mudança teve um custo oculto – eliminou o mecanismo crucial de autocorreção que mantinha a paridade. Antes, quando a sUSD caía abaixo de US$1, os stakers tinham um incentivo natural para comprá-la barata no mercado e usá-la para pagar suas dívidas. Isso reduzia a oferta e empurrava o preço de volta para US$ 1.
Agora, com dívidas sendo gradualmente perdoadas ao longo de 12 meses e stakers desincentivados a intervir (sob risco de penalidades se saírem antecipadamente), a sUSD perdeu sua principal forma de corrigir seu curso quando desvia do valor-alvo de US$ 1.
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Recuperação de stablecoin é possível
Apesar do cenário alarmante, analistas como Minal Thukral lembram que a Synthetix possui um colchão de segurança. O protocolo DeFi da Ethereum possui US$ 30 milhões em reservas, incluindo ativos como USDC e OP, além de experiência em crises anteriores. Em 2020, a sUSD chegou a US$ 0,40 antes de se recuperar graças a uma valorização expressiva do SNX.
Desta vez, porém, o desafio é maior. Enquanto a stablecoin quebra recordes negativos (caindo de US$ 0,92 em março para US$ 0,69 nesta semana), o SNX acompanha o movimento descendente, acumulando perdas de 26% no mês. Esse duplo colapso cria um círculo vicioso: quanto mais cai o SNX, menor se torna o lastro da sUSD, alimentando a desconfiança.

Token nativo do SNX que serve de garantia ao sUSD em queda acentuada. Fonte: CoinGecko
Thukral alerta que a única saída sustentável seria a reintrodução urgente de incentivos aos stakers. Nesse sentido, o analista aposta na eventual recuperação da paridade da stablecoin, mas reconhece que turbulência extrema marcará o caminho – e que cada dia de descolamento aprofunda as dúvidas sobre a arquitetura do sistema.
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