Por que o Bitcoin não acompanhou os mercados no último pregão?

Nos últimos dias, os mercados financeiros globais foram abalados por uma escalada nas tensões comerciais envolvendo os Estados Unidos e China, com o índice Nasdaq Composite entrando oficialmente em território de “bear market” (mercado em baixa), caracterizado por uma queda de mais de 20% em relação ao seu pico recente. Esse cenário provocou reações distintas nos ativos mais presentes no nosso dia-a-dia (como ativos brasileiros e o Bitcoin ) e a maneira como eles se comportaram em cada momento da semana merece um certo destaque.

Essas quedas foram desencadeadas pelo anúncio do presidente Donald Trump, em 2 de abril de 2025, de tarifas significativas sobre importações, conhecidas como “tarifas do Dia da Libertação” ou popularmente no brasil “tarifaço do Trump”. Esse anúncio continha tarifas para vários países, incluindo uma tarifa de 34% sobre produtos chineses e tarifas de 10% sobre produtos brasileiros, uma taxa relativamente moderada. Economistas sugeriram que o Brasil poderia emergir como um beneficiário indireto dessas medidas, pois a menor taxação poderia tornar os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional. Essa perspectiva positiva levou à valorização do real, que alcançou R$ 5,60 por dólar, seu nível mais forte desde outubro de 2024. Além disso, o índice Ibovespa registrou ganhos modestos, refletindo o otimismo dos investidores em relação às oportunidades comerciais do país.

No entanto, na sexta-feira (4), a China respondeu às tarifas americanas com a imposição de tarifas de 34% sobre produtos dos EUA, intensificando os temores de uma guerra comercial global. Essa escalada aumentou a aversão ao risco entre os investidores, resultando em uma fuga de capitais de mercados emergentes, incluindo o Brasil. O real sofreu uma desvalorização significativa, com o dólar subindo para R$ 5,84. O Ibovespa também caiu mais de 3%, refletindo a preocupação com o impacto potencial dessas tensões na economia global e, consequentemente, na brasileira . Dessa forma, enquanto o movimento de aversão ao risco considerava um risco localizado, mais voltado aos Estados Unidos, o Brasilganhou relevância, mas quando as tensões escalaram para uma tensão globalizada, a aversão ao risco passou a retirar capital de economias emergentes.

O Bitcoin, frequentemente considerado um ativo alternativo ou “ouro digital”, apresentou um comportamento misto durante esses eventos. Inicialmente, o preço do Bitcoin caiu abaixo de US$ 82 mil em 3 de abril, acompanhando a aversão ao risco nos mercados tradicionais. Contudo, em 4 de abril, enquanto os mercados acionários continuavam em queda, o Bitcoin mostrou resiliência, registrando uma leve alta e superando os US$ 84 mil. Essa divergência sugere que alguns investidores podem estar recorrendo ao Bitcoin como uma alternativa diante da instabilidade nos mercados tradicionais ou ao menos que já vem sendo considerado “muito barato” aos olhos do mercado.

O recente desempenho do Bitcoin indica que ele ainda está em um estágio de consolidação, buscando estabelecer-se como um ativo de refúgio em tempos de incerteza econômica. Embora tenha mostrado alguma correlação com ativos de risco, sua resiliência durante a intensificação das tensões comerciais sugere uma possível mudança na percepção dos investidores. No entanto, é prematuro afirmar que o Bitcoin se tornou um porto seguro definitivo, pois seu comportamento futuro dependerá de diversos fatores macroeconômicos e é muito provável que vejamos sua correlação com ativos de risco voltar a crescer já nos próximos dias.

Em resumo, a recente volatilidade nos mercados financeiros destacou a complexidade das reações dos ativos brasileiros e do Bitcoin às tensões comerciais entre EUA e China. Enquanto o real e o Ibovespa se prejudicaram com a escalada das disputas comerciais, o Bitcoin, por sua vez, demonstrou potencial como ativo alternativo de reserva , mesmo que esse comportamento ainda apareça apenas em momentos pontuais.